domingo, 27 de fevereiro de 2011

Aloka do Sentimentalismo

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Engraçado pensar no meu “possessivismo”. Ok, a palavra nem existe, mas eu conjuguei mesmo assim. Sou dessas que inventa palavras pra explicar coisas inexplicáveis. Como esse meu sentimento de possessividade, por exemplo. Não consigo explicar, só sei sentir. Só sei que eu sinto isso por pessoas o tempo todo. O sentimento de posse.


Mas afinal, como se explica um sentimento? Sentimentos foram feitos para serem sentidos e não explicados. Uma pessoa só vai entender um sentimento sentindo-o. Não será lendo as minhas palavras sem nexo que a pessoa vai saber o que eu sinto. Não vai ser assim que eu vou fazê-la entender que eu a amo de tal forma que não quero dividi-la com ninguém. Não vou conseguir mostrar o que o meu coração sente quando ela está longe, muito menos o bem que ela me faz quando está perto.


Não dá para explicar sentimentos.



domingo, 20 de fevereiro de 2011

Aloka do Samba

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Tem mais samba no encontro que na espera

Tem mais samba a maldade que a ferida

Tem mais samba no porto que na vila

Tem mais samba o perdão que a despedida

Tem mais samba nas mãos do que nos olhos

Tem mais samba no chão do que na lua

Tem mais samba no homem que trabalha

Tem mais samba no som que vem da rua

Tem mais samba no peito de quem chora

Tem mais samba no pranto de quem vê

Que o bom samba não tem lugar nem hora

O coração de fora

Samba sem querer

Vem que passa

Teu sofrer

Se todo mundo sambasse

Seria tão fácil viver

Tem Mais Samba – Chico Buarque - 1964




segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Aloka do futebol

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O futebol sempre fez parte da minha vida. Nasci em 1990, ano da Copa do Mundo na Itália, e desde que me conheço por gente me lembro do meu pai chorando ou comemorando muito em partidas de futebol do Brasil e do Corinthians. Meu pai só teve filhas mulheres (três) e eu sou o mais próximo de um filho homem que ele conseguiu ter, risos. E para agradar o meu pai, comecei a acompanhar o futebol, e gostei. Muito.

Lembro-me do meu pai me contando “do garoto novinho do Cruzeiro que jogava bola bem demais” esse garoto era o Ronaldo. Na época eu era bem pequena, mas comecei a acompanhar com meu pai os jogos e os programas de cobertura futebolística da televisão. E logo menos esse “garoto” já era meu ídolo. O jeito como ele movimentava a bola, as jogadas, aquilo tudo parecia uma dança linda na minha cabeça. Eu ficava paralisada quando o via jogar e, meu Deus, como eu gostava de vê-lo jogar. Lembro do jogo histórico do Cruzeiro contra o Bahia, em que ele marcou cinco gols e a memorável “roubada” de bola do goleiro (até hoje vemos essa imagem em retrospectivas do ídolo).

Minha memória mais antiga de relacionamento com meu pai é da final da Copa do Mundo nos EUA, em 1994, quando o Brasil ganhou da Itália. Meu pai estava tão nervoso que me pegou no colo na hora dos pênaltis e fomos pro andar de cima da nossa casa. Meu pai avisou minha mãe que não ia agüentar ver aqueles pênaltis e que ia ficar ali na sacada do meu quarto, que era para avisá-lo do resultado quando acabassem os pênaltis. Meu pai me colocou em seus ombros e ficou lá, de pé, murmurando algum tipo de reza maluca e supersticiosa a favor da Seleção Brasileira. Lembro-me até hoje dos gritos de alegria dele quando minha mãe subiu correndo pra contar que o Brasil conquistara o Tetra. Mesmo sem Parreira ter dado chance de jogo a ele, o país era oficialmente apresentado a “Ronaldinho”.

Veio a Copa do Mundo de 1998 e eu mal podia esperar, imaginando que eu ia ver aquele espetáculo que era assistir ao Ronaldinho jogar futebol. Alguma coisa nele me encantava demais, acho que era aquele sorriso que parecia ter uns 300 dentes na boca, o sorriso não acaba nunca, sorriso capaz de encher um cômodo inteiro de alegria. E vieram com a Copa, os problemas, e Ronaldo teve uma convulsão. Perdemos a final para a França, por três gols a zero.

Em 2002, eu já era uma “mocinha” e me lembro de quantos gritos eu dei, de como comemorei com aquela Copa do Mundo. Com o Ronaldo. Com o Brasil. Ronaldo foi essencial para a conquista do Penta e ganhou, com muito mérito, pela terceira vez, o prêmio de Melhor Jogador do Mundo. E eu comemorei mais uma vez com a minha família mais uma conquista da copa do mundo (só que dessa vez consigo lembrar-me de quase tudo, rs).

Ronaldo operou o joelho e fez mais participações no Brasil e eu continuei a admirá-lo, pela força de vontade, pela garra e, claro, pelo futebol. Muita coisa ainda tinha pra acontecer.

Toda a minha vida, quando me perguntavam “quem você acha que o Corinthians tinha que contratar pro ataque?”, eu respondia sem pensar duas vezes que eu queria o Ronaldo. E esse dia chegou. Quando esse dia chegou, eu não me agüentava de alegria. “O Ronaldo, O FENÔMENO, está no Corinthians. Vocês sabem o que significa isso? Vocês têm alguma idéia do que é ter o Ronaldo no Corinthians? Não precisamos de mais nada! É tudo nosso!”. Era a chegada de mais um louco pro nosso bando. E que chegada. Estava chegando a nossa hora. O primeiro gol do Ronaldo foi comemorado do jeito mais corintiano possível: no sufoco! 47 minutos do segundo tempo, escanteio pro Corinthians. Douglas cobra e Ronaldo cabeceia pra dentro do gol. Pra dentro do gol do Palmeiras. Aquele foi o gol mais lindo que eu já vi. Não foi um gol maravilhoso, não foi um gol de uma jogada planejada, mas foi um gol do Ronaldo. O lindo não foi o gol em si, mas a comemoração. E que comemoração. Ele correu pra grade e a torcida literalmente se jogou pra cima dele. Todos queriam tocar no fenômeno. Todos queriam passar com um olhar, um sorriso, um toque a felicidade que eles estavam sentindo, Ronaldo tinha salvado o dia. Ronaldo que nunca havia feito um gol contra o Corinthians, agora estava fazendo gols pelo Corinthians. Era perfeito.

Com Ronaldo conquistamos o Campeonato Paulista (invicto) e a Copa do Brasil, ambos em 2009.

Eu posso ficar aqui dias contando os mínimos detalhes do por que Ronaldo é tão importante na minha vida. Do por que futebol é tão importante na minha vida. E eu tenho certeza que todos os brasileiros têm pelo menos uma história que envolva “futebol” e ”felicidade” na mesma frase. O futebol é muito na vida de muitas pessoas. Pode parecer idiota, afinal, é só um esporte. Mas na verdade não é só um esporte. Assistir uma partida vai além de simplesmente assistir uma partida. O futebol é nossa fuga dos problemas, nossa válvula de escape. É quando torcemos e temos esperança em algo que não temos controle. O futebol tira pessoas do crime, ensina aos jovens a ter respeito, obedecer a regras, a vencer barreiras, a lutar. O futebol junta pessoas de todas as crenças, credos, raças, ideais políticos. Foi com o futebol que eu consegui me aproximar do meu pai, por exemplo. Todos se reúnem com um ideal: torcer pelo seu time de coração.

E por isso eu quis escrever esse texto, explicar. O Corinthians é parte da minha vida desde que eu me entendo por gente, e da vida de milhões de brasileiros. Quem gosta de futebol pode imaginar o que é isso. Mas só quem é corintiano mesmo que entende que o amor que a gente sente por esse clube é amor de pai e mãe. A gente briga, xinga, fica bravo, mas perdoa e continua torcendo, acompanhando e amando esse clube. Quem é corintiano aprende desde pequeno quem foi craque, quem foi ídolo, quem fez por onde no time. E eu espero contar pros meus filhos sobre o Ronaldo um dia. O Craque da minha geração.

Hoje, os brasileiros choraram com o Ronaldo. Imagino o quão difícil foi para ele admitir em seu coração que chegou a hora de dizer adeus aos campos. E além de tudo o que eu já mencionei aqui antes sobre o Ronaldo, uma coisa que eu sempre senti nele foi a humildade. Ele sempre foi verdadeiro. Passa isso com o olhar, com o sorriso. Assistir a aquela despedida hoje foi muito difícil para mim. Ver o meu ídolo dizer adeus doeu demais. Chorei. Senti-me perdendo um ente querido. Engraçado como isso acontece às vezes. O esporte nos faz criar laços com os jogadores, treinadores, torcida, mesmo sem nem ao menos termos trocado uma só palavra com algum deles ao longo de nossas vidas, sofremos quando eles sofrem, sorrimos quando eles sorriem. E tão humilde que é, quis pedir desculpas por algo que estava muito longe de ser sua culpa. Sabemos o quanto ele sofreu e ainda sofre na sua recuperação e sabemos o quanto se esforçou e deu o melhor de si por esse time. Se alguém tem que pedir desculpas aqui, somos nós. Cada um dos brasileiros que foram ingratos e maldosos com você.

O máximo que posso fazer aqui é agradecer. Agradecer ao Ronaldo por todos os sorrisos que ele me trouxe. A todos os momentos bons que ele proporcionou a mim com seus gols, com sua irreverência. Agradecê-lo por se dedicar e se esforçar até o seu limite e nunca desistir, nunca nos abandonar. Obrigada, meu ídolo. Eu sou só mais uma, dentre milhões de pessoas, não só no Brasil, mas no mundo, que o agradece. Eu lhe aplaudo de pé. Você é o número um e como você não há mais nenhum.






domingo, 13 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Aloka do Manoel de Barros

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"No começo era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde a
criança diz: Eu não escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não funciona
para cor mas para som.
Então se a criança muda a função do verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é voz de fazer
nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio."



Ah, Manoel. Se tu soubesses o bem que tu me faz.