quinta-feira, 7 de abril de 2011

Protótipo de Sapatão

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Minhas memórias mais antigas de conversas na hora do jantar são do meu pai falando que se um dia ele tivesse uma filha “sapatão” ele “botava pra fora de casa”. Para um homem ignorante e machista que foi abençoado com três filhas essa seria a deixa perfeita pra botar “medo”. Pena (pra ele) que esse “medo”, que ele jurava estar implantando nas nossas cabeças recém-formadas, não existiu. Pelo menos pra mim. Desses tais diálogos das refeições lembro-me bem do dia em que ele ficou mais bravo comigo. Um dia, eu, com sete anos de idade, respondi: “Se um dia eu me apaixonar por uma menina eu vou namorar com ela. Sempre vejo as pessoas falando que a gente tem que fazer o que o coração manda, então se eu gostar de uma menina ficarei com ela. Todos são seres humanos, não existe isso de cor, religião, homem e mulher”. Desde pequena eu sempre me interessei por esses assuntos. Pra sorte do meu pai eu nunca me apaixonei por uma garota (tirando a minha paixão platônica pela Mariana Ximenes na época de A Favorita), mas só consolidei cada vez mais essa idéia na minha cabeça.


Como uma mágica do destino, eu sempre fui quase um moleque. Tirando fisicamente. Sempre me interessei por futebol, nunca gostei de frescura, nunca liguei muito pra como me vestir, sempre andei só com meninos. Meu pai até disse para minha irmã que estava ficando preocupado. E pra melhorar fiz amizade com gays. Mas, estranhamente, meu pai não se importa com isso. Acho que pra ele é a velha história de que não sendo no teto dele não tem problema.


Um dia desses estávamos eu e meu pai assistindo às notícias quando uma nota contava que o jogador de vôlei Michael fora chamado de várias coisas durante uma partida devido a sua orientação sexual. De crianças a senhoras, eram xingamentos de eufemismos homossexuais voltados ao jogador. Aí eis que surge a frase: “Acho que uma pessoa nasce gay porque ela foi muito ligada a sua personalidade na outra vida”. Foi aí que meu pai atingiu o ápice do meu calo: achar que tudo na vida é explicado por religião.


Acho muito bom as pessoas terem fé, até as invejo. Eu, um dia, tive muita fé. Mas hoje vejo o mundo com outros olhos e tenho outra visão das religiões. Acho até bom que as pessoas tenham algo para se apegar, mas até certo ponto (homens-bomba = demais para mim). A bíblia pra mim é um livro escrito por homens que queriam controlar outro bando de homens e por isso escreveram várias historinhas incríveis, cheias de milagres, para ensiná-los uma lição. Manja a fábula da lebre e da tartaruga? Você lê a história, absorve as idéias principais e aprende uma moral. Não é que realmente tenha existido uma lebre e uma tartaruga falantes que apostaram uma corrida, mas alguém quis ensinar algo e criou essa história apenas para que o leitor absorvesse a moral dessa história e ponto. Ou vocês realmente acham que menino Sansão tinha uma força incrível graças ao seu cabelo comprido e que menina Eva comeu uma maçã estragada? A bíblia não passa de uma grande junção de fabulas que servem apenas para você captar a mensagem e não levar aquilo no literal.


Foi aí que eu disse ao meu pai que religião não tem nada a ver com isso. Uma pessoa não escolhe preferir nada nessa vida. Do mesmo jeito que tem gente que gosta de mulher alta, homem loiro, chocolate branco, Coca Zero, tem gente que gosta de pessoas do mesmo sexo. Não é promiscuidade, não é carma, não é putaria, não é maldade. É gosto! E hoje, depois de 14 anos, repito ao meu pai que se um dia eu me interessasse por uma mulher, se eu GOSTAR de uma mulher, não deixarei de viver algo por causa de uma sociedade hipócrita.


5 comentários:

  1. É tudo muito simbólico, os seres humanos que levam tudo no sentido literal.

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  2. é nega, tenho lido algumas coisas, vc ta escrevendo realmente muito bem...
    gosto qdo vc chega perto de falar algo mas nao fala rs..gosto qdo mantem os segredos
    e gosto de saber q pra vc nao faz diferença deixar secreto ou nao...
    Fato é q nao só a biblia cria historinhas fantasiosas pra conquistar adeptos...sao varias doutrinas espirituais q fazem isso...sao varios grandes e pequenos grupos de chefes, empregados, punk, mentirosos, sinceros, heteros, trabalhadores e estudantes ou nao...
    todas as pessoas inventam pequenas ou grandes historias fantasiosas pra atrair adeptos das suas ideias
    fato tb é q se vc se apaixonar por uma mulher....q seja eu rsrsrs

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  3. já me apaixonei por você, seu pastel.

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